Estamos na reta final de 2020, o ano que marcou todos nós de um jeito inesperado!
Digo inesperado, pois, prefiro não ser pessimista e classificá-lo como terrível. Pensando bem, esse negócio de definir rótulos para as coisas pode ser bem limitante, já que tudo depende sempre do ponto de vista do observador.
A forma como percebemos a vida é única, simplesmente singular e feita por ângulos próprios, íntima e quase sempre incompreensível aos olhos dos outros. Somos seres bem imaginativos a ponto de criar um universo todinho nosso. Assim, mesmo que eu queira criar definições e conclusões sobre 2020, ainda que possa abranger boa parte de opiniões, isso, definitivamente, não cabe ou caracteriza um todo muito maior.
Melhor escolher uma palavra plural, carregada de infinitas percepções. Fiquemos então como o "inesperado", a sensação de surpresa que nem sempre traz um presente, pode assustar, chocar e quando dosada de forma intensa nos congela e nos coloca no indefinido. Aquele momento em que tudo parece fazer sentido em alta velocidade e é tanto para compreender que nada mais faz sentido algum. O famoso céu e inferno.
De uma coisa eu tenho certeza, 2020 nos ensinou muito além do que estávamos preparados para aprender. Vamos levar para o próximo ano lições por fazer e talvez em algum momento mais clareza sobre tudo o que vivemos apareça. Só isso nos mostra que não dá pra definir nada sobre algo que nem entendemos profundamente.
Falando em profundidade, é interessante parar para olhar o quão fomos obrigados a vivenciar nossas vidas. Sem filtro e sem válvula de escape. Trancafiados em casa, convivendo com a família, lidando com as facetas mais variadas de nós mesmos, foi uma oportunidade insana para perceber o que de fato estamos construindo. A percepção de que o que vivemos hoje é fruto de escolhas que fizemos lá atrás. Sabe, talvez você tenha percebido que não adianta surtar e entrar em estado de negação com a própria vida, que é descabido culpar quem quer que seja. Que enquanto você não muda, nada mais muda.
Mas o que fica de essencial nisso não é a frustração com as escolhas, com as quais tivemos que conviver com frutos estranhos para colher. É que a vida pode ser completamente diferente de nossas agendas e projetos e está tudo bem. Que o lá fora pode estar aqui dentro. Que a escolha por mudança só vende ingresso individual. Você não muda mais ninguém além de si mesmo, então, na boa, pare de tentar mudar o outro. O máximo que se pode fazer é ser o convite para que o outro mude ao observar a sua mudança. E ainda sim, mantenha em mente que convites podem ser recusados. Isso não tem nenhuma ligação com o amor que as pessoas sentem por você. Por vezes, o ideal é entrar em permissão com o jeito do outro, abrir mão de controlar, de ser o dono da verdade, guardião da razão.
Eu fico me perguntando, se você tem em suas mãos a receita do bolo para a felicidade do outro, por qual motivo não aplica na própria vida? Sabe, gente feliz não enche o saco! E se você fosse verdadeiramente feliz será mesmo que gastaria tanta energia tentando consertar a vida de outras pessoas? Eu sei que você as ama e quer vê-las bem. Mas e se a maior prova de amor que puder oferecer for o estado de permissão de amar o outro sem querer pontuar as vírgulas? Deixe que cada um escreva sua própria história e se permita escrever a sua.
Só desejo que a gente aprenda a ser flexível, a lidar melhor com as viagens desmarcadas, as opiniões divergentes, as alterações em projetos, mudanças de rota e roteiro, com novas escolhas, com a vida do outro, com a diferença intrínseca, latente, exuberante, plural e pulsante que é a vida em si. E chega de birra né! O amanhã é um terreno incerto, não se faça de desentendido. Não viva de incertezas e não torne isso um problema. Seja a alegria agora por uma escolha simples de que não se sabe o depois. Faça o que precisa ser feito ainda hoje e não crie expectativas. Permita-se ser surpreendido! Abandone a coleção de frustações! Eu espero por essa versão de nós em 2021sabendo que meu convite pode ser recusado!
Beijinhos despreocupados com toda forma de controle que nos mantém presos na mentira de uma vida imutável, Denyse Ribeiro
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